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O que é improvisação



Saber o que é improvisação e como improvisar são questões dotadas de fundamental importância para o profissional da música que tenha a intenção de compor, arranjar ou improvisar, entretanto pouco importa qual ou quais os estilos e gêneros musicais preferidos. Superficialmente, a improvisação se resume no resultado produzido sem que houvesse uma preparação para se pudesse chegar a tal resultado; algo feito na hora, sem ensaio ou decoro.

A criação de melodias bem construídas e dotadas de beleza promovem o desafio e estabelecem a comunicação do músico ou compositor com o ouvinte. Assim, o improvisador deve ter consciência de que poderá utilizar vários artifícios como a inspiração e a intenção emocional para que se possa revelar, desenvolver e transmitir sentimentos quando se faz música improvisada.

A sequência melódica desenvolvida pelo improvisador deve ser o norte que propiciará aos ouvintes estabelecer conexões para que estes possam entenderem a mensagem que o intérprete ou compositor queiram transmitir.

A improvisação é uma composição em movimento. Improvisar não significa tocar notas aleatoriamente; é preciso que se esteja preparado para atuar na improvisação. Improvisar bem tem uma relação muito próxima com a formação do músico, pois este deverá ser possuidor de um grupo de habilidades que o torne um bom improvisador. Não basta ao músico saber ler e executar o que está escrito na partitura; deve-se ter a consciência do que está acontecendo no instante em que a música está acontecendo quando da interação com outros músicos.

Pilares da improvisação

Conhecimento lógico-racional: compreende o conhecimento das regras de teoria musical. Aqui também se prioriza o conhecimento de regras ligadas à estética de determinado estilo ou gênero. Inclui-se aqui a questão da percepção musical, que é a habilidade necessária ao reconhecimento de elementos ligados a intervalos, formação de acordes e suas tensões, etc.. É preciso que o músico compreenda o uso de escalas (saber decidir qual escala utilizar em determinado momento da música); se deparar com determinado acorde e saber seu significado em um dado contexto. Esse conhecimento lógico-racional deve ser previamente estabelecido; ou seja, tem que se chegar com um determinado grau de preparação antes de se aventurar no mundo da improvisação.

Performance: A habilidade técnica do músico deve estar completa e conectada com sua linha de raciocínio durante o momento da execução musical. Frases, licks, ornamentos, linguagem, dentre outros, são elementos que carecem de preparação e treinamento prévios. Apenas através de um treinamento prévio o improviso irá fluir como se deve.

Criatividade: se relaciona diretamente com o pilar do conhecimento lógico-racional, mas tem um elemento adicional que envolve perceber o que a música de fato pede. Criar algo quando se toca bossa nova possui um contexto diferente da criação relacionada, por exemplo, ao contexto da execução de um blues. Requer uma habilidade técnica específica que somente é adquirida pelo músico no decorrer de sua vivência ligada a aspectos da prática. Requer conhecimento do instrumento e, ao mesmo tempo, a habilidade relacionada àquilo que os outros músicos estão executando no momento; por exemplo: se uma guitarra está sendo tocada mais na região dos agudos, o piano terá que explorar uma região de notas posicionadas em médios e/ou graves.

Como desenvolver a improvisação?

Porém, o grande desafio de quem busca entender o verdadeiro sentido da improvisação se resume em uma pergunta enigmática: ´como improvisar com qualidade?´. Muito provavelmente a resposta a essa pergunta não seja algo petrificado. Talvez a melhor resposta à questão possa se resumir em entender as três características que as melodias de qualidade compartilham e relação ao músico executor do improviso:

* A linha melódica base para o improviso deve fazer parte do seu mundo musical ou linguagem;

* A melodia improvisada que se pretende criar deve possuir uma estrutura que promova a criação de frases bem estruturadas; e

* A melodia improvisada deve comunicar da melhor forma o que se pretende exprimir ao apreciador da criação.

Várias melodias que participam das várias composições possuem certas semelhanças entre si e já foram amplamente compartilhadas entre essas composições, seja intencionalmente, seja por coincidência. Diante disso, podemos dizer que o improvisador, aos poucos, à medida que vai entendendo essa relação entre as melodias ´em comum´, poderão aprender as habilidades requeridas para que o seu improviso soe de forma melódica e estruturada, porém, pouco importando a linguagem escolhida, bem como o gênero e o estilo que está sendo trabalhado.

Improvisar é o ato de criar no momento em que a música está sendo executada. Assim, é preciso que se haja uma preparação prévia por parte do músico. Geralmente essa preparação leva muitos meses e até anos. Improvisar também é compor. A exemplo da composição escrita, esta pode ser alterada antes mesmo de seu lançamento ou gravação em estúdio, o que não acontece com a composição que é elaborada no ato da improvisação, no momento em que a música acontece ao vivo, que exige uma habilidade diferente; assim, na improvisação é preciso saber lidar com o erro; errar no improviso é algo que em hipótese alguma poderá ser recompensado; se errar, continue improvisando e tentando encontrar um artifício que possa amenizar o erro ou torná-lo imperceptível ao público que espera uma boa performance. Em resumo, improvisar significa, também, assumir os riscos inerentes à performance.

A inspiração deve ser premissa básica intrínseca ao músico improvisador, que deve esta antenado com tudo o que acontece no momento em que a música se está sendo executada. Esse músico deve perceber o que o público espera; o ambiente, assim como a interação com os outros músicos, são elementos que influenciam de maneira drástica a atuação do improvisador. Se o músico se sente bem atuando no palco, certamente o seu improviso acontecerá de uma maneira mais consistente.

A improvisação e seus requisitos

Vale lembrar que toda criação, independentemente do estilo ou do gênero, busca obedecer a uma estrutura previamente estabelecida: forma, tonalidade, convenções, etc. A arte da escolha do caminho pode levar o criador a gostar ou não do resultado produzido de forma inesperada. Daí a importância de se dispensar uma certa atenção ao caminho escolhido para se produzir uma linha melódica improvisada, que nem sempre tende à obviedade.

Devemos ter em mente que o fato de se fazer uma boa escolha em relação ao padrão melódico a ser desenvolvido pode levar o improvisador ao resultado que este almeja. Porém, em contrapartida, a depender da escolha o resultado pode não ser o desejado, o que poderá acarretar na inação dos ouvintes ou a resultados de criação inesperados e insuficientes.

A importância do padrão melódico e da estrutura harmônica

Na improvisação, a escolha do padrão melódico que se deseja adotar para determinada música deverá ser bem pensada, o que proporcionará o surgimento de melhores resultados quanto ao aspecto criativo. Diante disso, não basta ter uma grande ideia para que se possa alcançar êxito; assim, um músico improvisador com pouca habilidade técnica esbarrará na expectativa de executar um solo bem elaborado.

Em contrapartida, o improvisador que tende a escolher uma certa estrutura harmônica ou melódica estará propenso a ficar limitado à quantidade de caminhos disponíveis; por outro lado, provavelmente conseguirá produzir um solo esteticamente aceito.

Conclusão

Saber o que é improvisação e como improvisar representa um desafio singular para aqueles músicos com menos experiência. A improvisação melhora com o tempo, a depender do grande leque de escolhas harmônicas que existem nas músicas e o quão esse leque é explorado pelo músico que deseja improvisar.

Muitos músicos evoluíram rapidamente na prática da improvisação ao adotar técnicas de aprendizado e de práticas ligadas a descobertas por acaso, bem como através da simples audição e análise dos mais diversos tipos de solos. Portanto, para que se possa ser um bom improvisador, o ideal é que o processo de ouvir e explorar os mais diversos tipos de solos não venham a ser subestimados. Pelo contrário, essa prática leva ao aprimoramento e à aceleração do processo de compreensão de conceitos comuns em relação aos fraseados melódicos existentes nos mais diversos tipos de improviso.

Diante do que foi dito até aqui fica mais fácil responder ´o que é improvisação´; assim, podemos concluir que a improvisação se resume em saber se foram aplicados os elementos de estilo adequados, bem como em certificar se a intenção melódica existiu no ato de se improvisar.

Atualizações:

Primeira atualização: em 1º de junho de 2024.

Bibliografia:

KANE, Brian. Constructing Melodic Jazz Improvisation. Cambridge, MA: Jazz Path Publishing, 2007.
LIMA, Sônia Albano de; ALBINO, Cesar. A improvisação musical e a tradição escrita no Ocidente. São Paulo: Instituto de Artes da Unesp, 2009.
MARANESI, Elenice. A Improvisação Na Música Popular. Brasília: Editora Musimed, 1987.